FALADOR

A maioria dos adultos traz na bagagem traumas sofridos lá atrás, por sofrer represálias cometidas por ações ou por comportamentos inadequados, segundo os padrões.
Na verdade nossos pais, sempre atentos à educação dos filhos, não nos poupavam quando transgredíamos normas e regras de casa ou da sociedade. Podia ser um simples ato de chupar os dedos ou de lamber as panelas, ou rir até não parar mais por coisas bobas na frente das visitas. Ainda, por deixar a refeição no prato e preferir a sobremesa, ou mesmo as notas baixas no boletim.
Essas lembranças de castigos impostos podem traumatizar e perdurar até a fase adulta, ou simplesmente desaparecerem da nossa memória. Tudo depende de como absorvamos as admoestações sofridas à época.
Eu particularmente tenho lá os meus pecados infantis que perduraram até à adolescência, os quais guardo na memória. Desde muito pequeno foram inúmeras as vezes em que fora repreendido. Ou por falar pelos cotovelos, independentemente de quem estivesse presente ou falando no momento.
Comumente atravessava a conversa e sem pudor me colocava à frente do assunto, senhor da situação.
Comumente, também, era advertido no mesmo instante, colocando-me em meu lugar. Lembro-me dos muitos títulos recebidos por falar demais, como tagarela, matraca, linguarudo, falador e tantos outros adjetivos.
Esse comportamento permaneceu até meados da minha adolescência quando comecei a entender que ouvir muitas vezes é mais vantajoso do que falar. Foi preciso muito autocontrole e policiamento para não atravessar falas de professores, chefes e amigos.
Tive que aprender a esperar a minha vez e agora, quando permitem, falo o necessário, somente o necessário. Curiosamente, formei-me em comunicação podendo assim me expressar bastante, se não for tagarelando, ao menos na escrita, porém na minha vez.
Acredito que o trauma foi superado, mas por vezes aflora a vontade de intervir e falar, falar, até à exaustão, mas um dispositivo dispara lá no fundinho do meu subconsciente como que dizendo, “cala a boca falador”.

Samuel De Leonardo (Tute)
samuel.leo@hotmail.com.br e Facebook @samueldeleonardo

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